
O problema está a montante. O ano passado realçou-se a desproporcionalidade em abstrato, não das decisões concretas mas das sanções possíveis entre as agressões de jogadores a agentes passivos qualificados pelas especiais responsabilidades na realização do jogo, desde os árbitros até aos delegados da Liga ou os assistentes de recinto desportivo – então puníveis entre molduras que iam de 6 meses a 6 anos – e todas as restantes formas de agressão – puníveis em jogos e nunca, então, em montante superior a 3, 4, 5 ou 6 jogos. Agora, a desproporção, também em abstrato, está entre as sanções dos diferentes autores da mesma infração, uma vez que são condenados pelo mesmo facto e são as vítimas de cada um deles.
É provável que estes processos ainda não sejam a força motriz de uma “revisão global” do RD, que, entre outros projetos, pede uma Liga personalizada e combativa, correspondente ao fulgor dos clubes portugueses na Europa. Ao invés, o imobilismo na Liga é hoje assinalável: nas apostas desportivas, eventualmente um sinal distintivo do mandato, abdicou; na “mudança” relativa ao usufruto dos direitos televisivos, em benefício dos clubes, a ingenuidade já alcançou que não é para “mexer”. A abertura ao exterior e a expansão do negócio ficaram pelo caminho; salva-se o apuramento da capacidade de organização. A disciplina deixou de existir, de caso pensado: o último jogo em Braga prova que a impunidade passou para o terreno. A arbitragem gere a transição para a Federação, na busca de um desígnio global. Entretanto, os clubes vão fazendo as cruzes no jogo das diferenças e não parecem insatisfeitos. Se nem o Nacional, tradicionalmente contestatário, se queixou de um castigo de 1 mês ao seu jogador – que, na prática, são 2 jogos de fim de época (=João Pereira por insultos) –, é porque o balanço da Liga de Gomes é bem positivo… E, a julgar pelas tiradas laudatórias dos jornais, deve ser mesmo!
Crónicas de Ricardo Costa, in Record
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